quinta-feira, 19 de abril de 2007

Déjà vu





Pois então, só te quero ver em outra vida portanto,
Quandos nós formos gatos.


A vagar errantes sobre tetos, e tetos
Das vidas e vidas de tantos ninguéns
Contemplados voyeuristicamente pela lua, mãe dos ausentes
Que nos explodirá as retinas, translúcidas, felinas


De tantos quereres baldios, terreno sempre à deriva
De tantos sabores gratuitos, céu de Dali a pairar
Da matéria do sonho, a poesia gatuna surgirá, gatuna sim
E larápia, fazendo de cada galho um abrigo, mais que poético,
Apoteótico de amor.

Quando nós dois formos gatos, sim. Fugiremos de todos e de tudo.
Renasceremos à cada instante, sedentos pela morte e vida
Como errantes certos, exilados no país do tempo.


A hora já acordada, correndo alucinada em nosso encalço
Nos fará lembrar dos fartos pomares de poemas à espera,
mas responderás: se o tempo é relativo, o amanhã também o é.

Então o que dizer das palavras? E eu te abraçarei um abraço de gato,
suando o suor que dos gatos não sua e
amando um amor que dos gatos não emana.


É uma paisagem em sépia, a mente em teu espectro
Um blues sem notas, nem catarse.
Retenho o choro, tal qual o gozo
Para, em claro enigma,
Revolver a exatidão dos pesares.


E mais do que nunca a poesia que aprisiona
nessa redoma de máscaras
é a mesma do tom confessional, da qual não tiro sequer uma migalha de drama
para ceifar o meu desejo ímpeto e sôfrego de busca
por um par, ímparmente poético.

2 comentários:

flavinha disse...

"da qual não tiro sequer uma migalha de drama"

adooooro!

:*

Viviane Gallindo disse...

HISTÓRIA DE UMA GATA

Me alimentaram
Me acariciaram
Me aliciaram
Me acostumaram

O meu mundo era o apartamento
Detefon, almofada e trato
Todo dia filé-mignon
Ou mesmo um bom filé... de gato
Me diziam todo momento
Fique em casa não tome vento
Mas é duro ficar na sua
Quando à luz da lua
Tantos gatos pela rua
Toda a noite vão cantando assim

Nós, gatos, já nascemos pobres
Porém, já nascemos livres
Senhor, senhora senhorio
Felino, não reconhecerás

De manhã eu voltei pra casa
Fui barrada na portaria
Sem filé e sem almofada
Por causa da cantoria
Mas agora o meu dia-a-dia
É no meio da gataria
Pela rua virando lata
Eu sou mais eu, mais gata
Numa louca serenata
Que de noite sai cantando assim...