sexta-feira, 25 de maio de 2007


Kuaráendarkness

Hoje eu vi um mundo

E a vida era medida em anseios.



Et Cetera


Esse poema é um espelho
Velho signo da alma desgarrada
Brotado ao limiar da vista
Tragado da vastidão vazia

Esse poema é um espelho
Do sêmen à servidão
Vícios táteis, luz de Mirra
Rios turvos brutos feitos

Esse poema é um espelho
Do barro ensangüentado desfeito
Espremido à força bruta!
Composto de vomitadas letras

Esse poema é um espelho
Que a nada reflete
Salvo o nada nosso
Exc(r)eto o tudo deles

Esse poema é um espelho
Que não raro chora a alma procurada
Perdida nos ermos aflita
Em busca do eterno tempo perdido

Esse poema é um espelho
Que só reflete o que você, leitor, já viveu
É a imagem desbotada, da memória fragmentada
Que implora para ser lembrada!

Esse poema é um espelho
Das ruas que cruzam as nossas vidas
Das desvairadas chuvas que maculam a nossa certeza
Mas que confortam nossa esperança infantil

Esse poema é um espelho
De tudo que foi reprimido
De tudo que foi esquecido
De tudo o mais suprimido

Esse poema é um espelho
Dos vultos paralisados
Atravancados no cais noturno
Das vontades marginais

Esse poema é um espelho
Congelado neste instante
Pelo colo frio da saudade
Que jaz no nunca mais

É... Esse poema é um espelho
Que varou-me os olhos ao lê-lo
Descoberto fogo-fátuo de nossas vidas
Na mais inóspita e amarga sensação

Esse poema é um espelho
É a mangueira, é a pitangueira
É a cor viva, nua, suada
É a voz tua, o riso teu!

Esse poema é um espelho
Do nosso cansaço e desolação
Dos sonhos desertados, do horizonte infinito...
Onde está você?

Esse poema certamente é um espelho
Da nossa vontade de viver um pouco mais
De velar por nossa memória conjunta
De velar por nossa fatigada esperança de união

Esse poema é o espelho
Fragmentado em mil pedaços
Que procura pela labirintada luz irmã
Para ver a si mesmo, gêmeo trevas

Esse poema é um espelho
Sim, é sim, é são, é só
É oi! é xau! É vó!
É apenas um espelho...
Tão somente um espelho...

Um espelho...

quinta-feira, 17 de maio de 2007



Enfance


A folha é leve
E a pressa cai
O rio é sulco,
Rabiola descai

Pião é giro
Enquanto já
Chorar é sinto
D´um muito seco mar

Dragão de ouro
Ou passo para trás:
Veloz badoque solto
Num avesso de cais

Olhos alçados

O sol se está fazendo negro
E o vento basta.