domingo, 1 de julho de 2007



Já não se encantarão os meus olhos nos teus olhos,
já não se adoçará junto a ti a minha dor.
Mas para onde vá levarei o teu olhar
e para onde caminhes levarás a minha dor.


Fui teu, foste minha. O que mais? Juntos fizemos
uma curva na rota por onde o amor passou.
Fui teu, foste minha. Tu serás daquele que te ame,
daquele que corte na tua chácara o que semeei eu.


Vou-me embora. Estou triste: mas sempre estou triste.
Venho dos teus braços. Não sei para onde vou.


...Do teu coração me diz adeus uma criança.
E eu lhe digo adeus.

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.

A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Ausência (C. Drummond de Andrade)

4 comentários:

Gabi ;) Braga disse...

Tão lindos os poemas...
o de Drummond é um dos meus preferidos.

;)

flavinha disse...

s� faltou o Ausencia de Vinicius! :}

;*

Julliana Araújo disse...

Adoro esse poema de Drummond. Essa ausência é que é tão presente...

Viviane Gallindo disse...

I could hear this music as I was taking a stroll around your blog: http://www.youtube.com/watch?v=dZn_VBgkPNY