
Já não se encantarão os meus olhos nos teus olhos, 
já não se adoçará junto a ti a minha dor.
Mas para onde vá levarei o teu olhar 
e para onde caminhes levarás a minha dor.
Fui teu, foste minha. O que mais? Juntos fizemos
uma curva na rota por onde o amor passou.
Fui teu, foste minha. Tu serás daquele que te ame, 
daquele que corte na tua chácara o que semeei eu.
Vou-me embora. Estou triste: mas sempre estou triste. 
Venho dos teus braços. Não sei para onde vou.
...Do teu coração me diz adeus uma criança. 
E eu lhe digo adeus.
 
 
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim. 
 
Ausência (C. Drummond de Andrade)